terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Quem nos defende dos defensores?


Para a teoria económica neoclássica – retomada pelos neoliberais e muito em voga nos tempos que correm – o mercado de trabalho sofre vários constrangimentos ao seu livre funcionamento que são impostos pelas instituições: legislação laboral, negociação colectiva, salário mínimo, protecção no desemprego…

Defende ainda que a “rigidez” do mercado de trabalho imposta pela existência destas instituições é um factor importante de desemprego.
Ou seja, o crescimento do emprego dependeria, assim, da eliminação do salário mínimo, da alteração (de preferência eliminação) das leis que protegem o emprego e da redução do grau de “generosidade” da protecção no desemprego (leia-se acabar ou reduzir substancialmente o subsídio de desemprego).

Estas medidas têm sido insistentemente defendidas publicamente, especialmente por todo um conjunto de economistas filiados na corrente neoliberal (a Faculdade de Economia da Nova parece ser o mais recente ninho intelectual destes mentores) e logo acarinhadas pelos vários poderes.

E a verdade é que paulatinamente as instituições criadas ao longo de décadas para nos protegerem dos abusos vão caindo, uma a uma.

Lamentavelmente, é pela mão de uma ministra que foi sindicalista – nº 2 da Confederação Europeia de Sindicatos (CES) antes de se render aos encantos da governação – que os patrões alcançam mais uma vitória: a redução a um terço das indemnizações por despedimento.

Como defende a teoria neoclássica de mercado de trabalho, acaba-se com as instituições que constrangem o livre confronto entre oferta e procura, tal gladiadores e feras na arena.

Afinal, o desemprego não é mais do que o resultado da intransigência do trabalhador em aceitar as condições do mercado – ou seja, o salário de equilíbrio.

As nossas instituições políticas, eleitas na presunção de que nos protegem enquanto elo mais fraco no combate travado no mercado de trabalho, encarregam-se de nos obrigar a aceitar.

Aliás, há sucessivos governos que as alterações na legislação laboral usurpam direitos aos trabalhadores e subvertem a essência do Direito do Trabalho.

Em contrapartida, as promessas de um mercado de trabalho mais dinâmico de que resultaria mais trabalho qualificado estão à vista: o desemprego está imparável, a precariedade aumenta, a pobreza atinge não só quem não tem trabalho mas também um cada vez maior número de trabalhadores.

Quem nos defende dos defensores?

2 comentários:

  1. Não vale a pena pensar que alguém nos defende. Os trabalhadores estão cada vez mais entregues a si próprios.

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  2. A seguir ao 25 de bril, quando alguém dizia procurar emprego, tinha como resposta dos reaças que já ousavam levantar cabelo: "Emprego não tenho, mas ofereço trabalho". Fórmula chico-esperta de responder e de recusar mesmo o regresso às poucas garantias que o antigo regime entendia proporcionar. Por isso caímos nesta situação de se confundir emprego com tarefa, e desemprego com falta de trabalho. É o modo bastardo de o "laissez faire" regressar à política activa, na óptica do utilizador: deixem fazer desde que seja "em meu benefício". Nunca dão ponto sem nó. E eles estão no poder.

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