Ao escritor que tão bem retratou as muitas formas de trabalho e ao homem sempre empenhado na defesa dos trabalhadores e na denúncia da exploração, um adeus sentido.
Apesar de não ser fã da escrita de José Saramago reconheço-lhe o talento e as grandes escolhas temáticas (e muito oportunas e em jeito de crítica) que caracterizan os seus livros. Até sempre, Saramago! Obrigado.
O ódio que a direita desabrida lhe dedicou só tem uma justificação: de classe. Ele foi o autodidacta, ele construiu-se a pulso, ele modelou o discurso dos seus livros, do seu mundo, dos seus oprimidos e opressores com a palavra limpa, lúcida, lavada, de um espírito superior. Ele sabia do que falava. Editor, jornalista, cidadão, deixou a intriga deste Portugal pós-25 de Abril e foi à descoberta do Portugal que nos fugia. Para trás deixou a passagem pelos jornais, o Diário de Lisboa, primeiro, o Diário de Notícias, depois. No Lisboa semeou os seus editoriais, no segundo um clamor de vozes acusando-o de comunista. Comunista? Respondeu-lhes com a memória, primeiro, de um mundo de homens que se levantavam do chão a reclamarem justiça. Percorreu o país, retratou-lhe o património e as gentes num trabalho em que se entrelaçam o antropólogo e o historiador. Foi aí encontrar o adubo para uma grande parte do que depois ficcionou. E mereceu reconhecimento mundial. Repito: o mundo que ele queria nada tinha do que está aí, triunfante. Os Sousa Lara deste mundo, os Cavacos, e toda essa santa inquisição, não calaram a voz de quem pensava pela sua cabeça, de acordo com o que viu e sabia, e não de acordo com os interesses pessoais, ou de classe. Os censores ficarão anónimos na história – limitados à circunstância do lápis azul. Os censurados fazem história, até, ou ainda mais, quando morrem.
Concordo com o Batatinha. Contudo o que me irrita verdadeiramente é os Sousa Lara e os Cavacos deste mundo virem agora dizer que lamentam a sua morte e que agradecem o seu legado quando em tempos o tentaram silenciar. Poderiam ser mais cínicos?
Apesar de não ser fã da escrita de José Saramago reconheço-lhe o talento e as grandes escolhas temáticas (e muito oportunas e em jeito de crítica) que caracterizan os seus livros.
ResponderEliminarAté sempre, Saramago!
Obrigado.
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ResponderEliminarO ódio que a direita desabrida lhe dedicou só tem uma justificação: de classe. Ele foi o autodidacta, ele construiu-se a pulso, ele modelou o discurso dos seus livros, do seu mundo, dos seus oprimidos e opressores com a palavra limpa, lúcida, lavada, de um espírito superior.
ResponderEliminarEle sabia do que falava. Editor, jornalista, cidadão, deixou a intriga deste Portugal pós-25 de Abril e foi à descoberta do Portugal que nos fugia. Para trás deixou a passagem pelos jornais, o Diário de Lisboa, primeiro, o Diário de Notícias, depois. No Lisboa semeou os seus editoriais, no segundo um clamor de vozes acusando-o de comunista.
Comunista? Respondeu-lhes com a memória, primeiro, de um mundo de homens que se levantavam do chão a reclamarem justiça. Percorreu o país, retratou-lhe o património e as gentes num trabalho em que se entrelaçam o antropólogo e o historiador. Foi aí encontrar o adubo para uma grande parte do que depois ficcionou. E mereceu reconhecimento mundial.
Repito: o mundo que ele queria nada tinha do que está aí, triunfante. Os Sousa Lara deste mundo, os Cavacos, e toda essa santa inquisição, não calaram a voz de quem pensava pela sua cabeça, de acordo com o que viu e sabia, e não de acordo com os interesses pessoais, ou de classe. Os censores ficarão anónimos na história – limitados à circunstância do lápis azul. Os censurados fazem história, até, ou ainda mais, quando morrem.
Concordo com o Batatinha.
ResponderEliminarContudo o que me irrita verdadeiramente é os Sousa Lara e os Cavacos deste mundo virem agora dizer que lamentam a sua morte e que agradecem o seu legado quando em tempos o tentaram silenciar.
Poderiam ser mais cínicos?
Perdemos um grande escritor!
ResponderEliminarTambém adoro a obra de Saramago e agora vou aproveitar as férias para relê-las. É o mínimo que posso fazer para homenageá-lo na despedida.
ResponderEliminarO Cavaco só não leu porque ele não tinha nada sobre os Açores. E era isso que a família dele queria saber.
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