terça-feira, 6 de abril de 2010

Marx dixit


A pretexto da actual crise mundial, muitas foram as reflexões e opiniões vindas a público sobre o modelo económico dominante.
Leram-se e ouviram-se muitas críticas ao modelo capitalista e à subjacente ideologia neoliberal, que teriam sido desvirtuados pelos excessos do mercado e redundando na severa crise (o quão severa é também tem dado azo a interpretações).
Curiosamente, a maioria dessas opiniões contém, mais ou menos implícita, a crítica a um modelo alternativo – qualquer que ele seja. E não é por acaso que após o abalo sísmico que colocou Estados à beira da falência, provocou milhões de desempregados em todo o mundo e fez disparar os níveis de pobreza e exclusão social, os opinadores do regime se sentem novamente confortáveis para defender a manutenção do sistema e oporem-se abertamente a alterações em matéria de supervisão financeira, ao fim dos offshores ou à taxação das mais-valias bolsistas.
Igualmente curioso é verificar que de forma mais ou menos elaborada, com maior ou menor suporte teórico, o modelo capitalista é defendido por oposição… ao marxismo, sinónimo de caos, fim da sociedade de consumo a que nos habituámos. É o regresso à guerra fria na forma mais primária.
No combate ideológico vale tudo? Talvez. Mas o mínimo que se exige é honestidade intelectual.
Por isso irrita-me que no calor da discussão (tomemo-lo assim), se tomem juízos de valor por conhecimento. Nem toda a gente poderá ter tido oportunidade e vontade para ler Marx. É natural. Mas o mínimo que se exige a quem opina é que não tente confundir quem não leu com deturpações de conceitos.
Não há nada como ir às fontes primárias (enfim, às traduções, inclusive em português). Mas para quem não quer ler obras como Teses sobre Feuerbach, O Manifesto do Partido Comunista, O 18 de Brumário de Louis Bonaparte, O Capital, Trabalho Assalariado e Capital, Para a Crítica da Economia Política ou Salário, Preço e Lucro, sugiro um pequeno livrinho: Les 100 Mots du Marxisme. Numa centena de páginas, Gérard Duménil, Michael Löwy e Emmanuel Renault dão conta dos principais conceitos, de forma concisa e clara.
O livro compra-se em qualquer quiosque de Paris por 9€ e também online, através da amazon.fr, onde está disponível a partir de 5,40€.

3 comentários:

  1. É verdade que o marxismo aparece sempre como sendo o oposto do capitalismo mas muitas vezes a ideia errada que as pessoas têm do marxismo deve-se exactamente à influência que os EUA e o seu modelo capitalista fizeram passar do que seria o marxismo.

    Estas ideias são muito dificeis de ser mudadas e como deves compreender 99% das pessoas nunca vão pegar num livro desses para ver se estão ou não erradas sobre o que é o marxismo.

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  2. Cara I,
    É óbvio que tem razão. A hegemonia dos EUA contribuiu decididamente para essa percepção. Mas com a facilidade de acesso à informação que caracteriza a sociedade actual (é claro que podemos discutir se realmente é assim) é possível desfazer mitos e escolher com consciência. E afinal este pequeno livrinho lê-se quase como um dicionário, uma entrada de cada vez, quando a dúvida surge. Sem pressas…

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  3. Obrigado pela sugestão! Por vezes é mais fácil ter à mão uma obra consisa para tirar dúvidas do que voltar às grandes obras à procura da informação necessária para aclarar uma ideia.

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